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A minha história privada é pública!

A minha história é um fragmento da vida, repleta de momentos expressivos, fortes e capazes de despertar emoções; sempre com a alma aberta, como uma janela que recebe todas as horas do dia e as quatro estações do ano. É uma mistura de sorrisos com doce de abóbora ou uma chuva de lágrimas com gosto de chocolate quente. Sou filha única, tenho curso superior incompleto e teoricamente venho de uma família de portugueses e italianos bem estruturada. Com 17 anos, ainda no antigo colegial,iniciei um curso de inglês e datilografia.Fui aprovada em dois vestibulares e no ano seguinte iniciei o curso de Letras. Sempre fui uma CDF roxa (essa sigla é antiga, e tenho certeza que não precisa de tradução simultânea, né?), e passava a noite criando contos mirabolantes na minha máquina de escrever Olivetti que ganhei do meu pai .Ele ficava incomodado em me ver escrevendo  em folhas de sulfite  e quando errava uma  só palavra tinha que começar tudo de novo, amassando o papel com raiva.
Queria ser escritora, mas ninguém botava fé, principalmente o meu pai, que me esnobava:
— Belaroba! Só acredito, vendo.
— Quem viver, verá , pessimista! — respondia, esbravejando.
Ele era um homem que dizia ter pouca sorte. Deveria ter bons motivos para não parecer muito feliz. Na verdade, nunca o compreendi, e tivemos uma relação difícil. Papai era uma pessoa honestíssima, íntegra e de bom caráter. Não tinha nenhum tipo de vício, nenhum crediário, nenhum gasto extra, e trabalhava “pra caramba”; mas era seco como uma ameixa de Natal e economizava até carinho. Dava até raiva, meu! Não demonstrava as suas emoções e dizia que amor era uma geladeira cheia de comida, com todas as contas penduradas, pagas exatamente no lendário dia dez. Eu queria que sentisse orgulho de mim, mas o pouco que conversávamos era para bater boca.Queria que me amasse, como antes...
— Você nunca me apoiou em nada — dizia, revoltada.
— Lógico. Você sempre fez tudo errado!
— Fiz o que o meu coração mandou, mas esqueci que o senhor não tem coração.
E nesse blábláblá todo, a conversa pegava fogo. Dizíamos coisas cabeludas, que valiam como chutes no estômago. Depois cada um ia para um lado e sofríamos em silêncio. Um silêncio durou mais de 20 anos. Existem que pessoas que passam pela nossa vida mas que, muitas vezes, não as compreendemos como merecem. Meu pai foi uma delas, e tenho certeza que se fosse hoje, tudo seria diferente. Eu o colocaria no meu colo  e sussurraria no seu ouvido: “Os anos se passaram muito rápido, e não sou mais aquela menina turrona e rabugenta. Agora sou até avó”. Pai, eu não sabia, mas sempre te amei, daquele jeito todo meu! Será que dessa vez a gente pode se entender? Saudades eternas.
sussurraria no seu ouvido:

Os anos se passaram muito rápido, e não sou mais aquela menina turrona e rabugenta. Agora sou até avó”. Pai, eu não sabia, mas sempre te amei, daquele jeito todo meu! Será que dessa vez a gente pode se entender? Saudades eternas.

 

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