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E como tudo recomeçou..Você será o meu cúmplice!

 

Quando escrevi o livro Flash, você sabe o que eu tenho?- que conta sobre o meu romance com uma pessoa esquizofrênica e a superação diária contra o vírus HIV, estive dominada por um impulso forte que me fez contar um pouco sobre a minha história de vida num espirro espontâneo .Foi tudo muito rápido e após dois meses de noites varadas em frente ao computador o fato já estava consumado!Todas as lembranças vieram á tona e “escrevi de cabeça”, forçando a memória para detalhar algumas situações emocionantes que me levaram ao cansaço físico, mental e espiritual.
Durante esse processo terapêutico, translúcido e telúrico emagreci alguns quilos e era como se revivesse o passado sem sair do lugar, com direito a cheirinho gostoso de sopa quente  e abraço apertado de saudade. O momento que descrevi a internação do Fábio foi dolorido demais e a sua morte me levou ao pranto, e desesperadamente chorei por minutos sem fim.Como nunca pude chorar, porque assim que fiquei viúva já estava com outro e não podia lhe magoar com fantasmas do passado.
    É lógico que o escritor também fantasia , apimenta, floreia, faz charme, mas eu estava inteira naquela viagem transcendental pelo tempo e espaço. Passei por uma crise de identidade e depressão porque era difícil estar na rua Francisco Retti de madrugada ,ainda como  mulher de Fábio, e após poucas horas de sono acordar em Ubatuba, casada com Serginho,avó de Davi, trinta anos depois, portadora de um vírus mortal e com um monte de remédios na bolsa.Parecia outra pessoa com um destino diferente daquele que vivia no decorrer da história.Então  me sentia frustrada e  com uma vontade louca de mudar o rumo da conversa, acrescentando uma vírgula, um ponto ou  um final feliz diferente da minha realidade.Era um misto de sensações; queria minha casa na Mooca, meu sogro cantante, o queijo da pizza derretendo na boca, os móveis novos, o cheiro de estopa molhada, o assobio do Fábio, as nossas promessas de fidelidade e amor eterno...Exigia ficar ali, para sempre.Mas também queria a alegria do Serginho, as praias de Ubatuba, meu quintal simples e florido, meu filho João Pedro...E agora? Quase pirei! Era preciso ter um equilíbrio  e  pés no chão. Dureza , porque ficava dividida entre os dois mundos e cheguei até a pedir um tempo para raciocinar melhor!
O livro foi lançado e de repente muita gente sabia mais de mim do que eu mesma! Enquanto você escreve a história no âmago do seu computador, de pijama furado e chinelos de dedos, ainda está protegido dentro do próprio anonimato, porém depois que este livro é lançado tudo cria asas e você não consegue mais aprisioná-lo dentro de parágrafos gramaticais. É preciso maturidade para assumir cada palavra e mil pernas para poder alcançá-la. Você se transforma num personagem público  tão íntimo de cada leitor que passa a fazer parte da sua família, do tipo irmã siamesa ,com direito a cheque emprestado e churrasquinho na laje.Aí é que mora o perigo.O escritor vai se envolvendo com a história, cevando  limo na caneta, falando muito, contanto tudo, abrindo o coração...  e de repente perde a noção da privacidade e só falta ilustrar a capa do livro com o próprio “ultrassom” pélvico.E se isto rolar, é porque o escritor é “porreta” mesmo ; que escreve com o útero! Então o leitor precisa entrar em cena com a sua cumplicidade ética, na miúda, de bico colado... Captou a mensagem? Bico calado! Se ontem você leu no livro Flash um detalhe da minha vida íntima, é claro que quando nos encontrarmos na feira de domingo, não vai acontecer aquela piscadinha marota só na sacanagem: - Você manda bem, hein danada?- 
O que eu quero dizer é que a relação do escritor com o leitor é peculiar e totalmente discreta, do tipo amada amante. Tem um “climão” ali, mas ninguém abre a boca.  E eu só me liguei nisto quando vi a minha família completamente exposta à crítica e comentários alheios.  Por algumas vezes me questionei se tinha o direito de colocá-los numa saia justa em nome de meus ideais, mas depois me confessaram que estavam curtindo os lançamentos com petiscos deliciosos, toda aquela gente bonita circulando com o livro na mão, as entrevista em família e principalmente as menininhas querendo saber tudo sobre eles, com troca de e-mails e visitas no Orkut! Na verdade queria que aquele remédio amargo tratasse de toda as chagas da alma.Os meus filhos têm jogo de cintura, bom humor, sensatez e personalidade forte.Não se abalam com qualquer ninharia e além da beleza física, do corpo definido, do sorriso marcante...são bonitos por dentro também.O carisma, a inteligência, a  generosidade, a criatividade e a auto estima fazem toda diferença!
 Fiquei surpresa com o sucesso do livro e o carinho das pessoas foi essencial para me sentir abraçada por cada um que encontrava no meu cotidiano. Recebi inúmeras declarações de amor, mensagens de apoio, cartas e cartões de solidariedade, beijos de amizade, gestos inesperados e inexplicáveis. Nunca me senti tão amada!

O mesmo livro que no início foi ridicularizado por alguns que me subestimavam como escritora, ganhou espaço na mídia regional e  nacional, sendo citado em revistas conceituadas como Decorar, Bem Estar, Ubatuba em Revista, Saber Viver, Universo Masculino e Camarim Brasil.Em programas da TV Vanguarda, Mix Campinas e Rádio Gazeta.E o mais importante, conquistou o respeito de pessoas simples como eu, que acreditam que somos todos capazes de superar os próprios limites.
Com o decorrer do tempo os leitores queriam conhecer de perto a autora do livro Flash e pensei numa maneira de estar mais próxima.
Então criei o projeto e o blog Blablablá Positivo,  que tem como finalidade abordar temas como prevenção, auto-estima, solidariedade, vontade de viver e principalmente sobre amor, através de apresentação de slides e vídeos, distribuição de material impresso, bate papo descontraído  e finalizando com o meu depoimento. Durante o trajeto as pessoas pediam o livro, porque a maioria não podia comprar e eu, é claro, doei quase todos. Então a edição foi esgotada num piscar de olhos e fiquei sem nenhum para contar história , fritando na cama e tentando achar uma solução.

Melhor, vou fazer um novo. Quem sabe um mix? Quando lembrei-me do velho baú de vime onde guardo meus diários secretos resolvi mexer ali para remover as traças e buscar qualquer coisa de diferente. Nossa, que surpresa ao reencontrar detalhes que nem me lembrava mais.Babado fortíssimo  que havia bloqueado na minha memória.Fábio usou drogas? Eu me sentia inferior a ele por ter sido adotada? Quem foi Bethy? Será que eu tenho esquizofrenia ou este tal de TOC? Eu fui a sua maior inimiga e não me lembrava disto. Era como se tivesse apagado de minha vida um lado pesado e crucial para o famoso epílogo documentado.
São fatos que mudam todo o roteiro. Eu ria com algumas situações e chorava com outras! Meu Deus, eu fui um monstro! Amanheci rodeada por cadernos cheirando a mofo. Fiquei um caco! Passei a enxergar um novo ângulo da história e um sentimento de culpa me invadiu a bílis, deixando um gosto amargo na boca. Fiquei envergonhada e me calei. Como pude ter feito aquelas atrocidades com Fábio ? Fui covarde, má, inconseqüente, imatura, infiel, e o pior; tudo em nome do amor. Não me reconheci naquela narrativa eloqüente e tive náuseas.
Comecei a por tudo na ponta do lápis e como agora sou uma escritora moderna e interativa criei o blog Intimus  na mesma semana , e foi um passo para ser transformado em livro. Livro este que é uma tempestade de vento na minha alma errante e que, sem querer querendo, deixou-me despida de pudores e frágil diante dos seus olhos. Agora, você e eu,  estamos unidos nesta simbiose romântica e dramática.
Aqui conversaremos sobre tudo aqui e muito mais!É um desabafo e uma tentativa de pedir perdão. Fábio, você sabe do que estou falando...Todos esses anos me escondi da realidade e antes que tudo acabe neste mundo  tenho o dever de me redimir, para quando esse dia acontecer possa partir mais leve e tranqüila, com a certeza de que fiz o melhor.



                       

 

(Esse trecho só foi acrescentado porque ao terminar de ler os diários tão bem engavetados dentro de mim vi que a história é outra e não posso mais permitir que ela seja contada de uma maneira fictícia como sempre fiz.) Boa leitura! Boa reflexão. Boas Novas! E que depois de tantas revelações surpreendentes ainda possamos ser amigos, porque você  leitor será o meu cúmplice, silencioso, atento e fiel.Hei, meu bem...vem!

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