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Sua batata está assando!

Acordei com o muro de casa escrito com giz de cera: Silmara é mulher macho! Enquanto eu bufava de raiva reuni toda a molecada para iniciar o investigatório, apurar os fatos e dar o veredicto. Nisso ele descia a viela com aquela cara lambida de quem tinha culpa no cartório.
- Sabia que inventaram aqui na rua que eu era mulher macho?
- Puxa, que petulância!
- Que eu estava com uma menina atrás do pé de mamona...
- Nossaaaa, que coisa! Quem era a mina?
- A sua irmã, idiota! Foi você, né? Seu boca de vento!Cuidado que a minha próxima vítima vai ser a sua mãe! – e ríamos muitoooo!
No outro dia precisava ir ao psicólogo e não queria tomar banho.Seu pai mandou  me chamar e larguei tudo para ir até a sua casa numa operação suicida.Escondeu-se atrás da porta.
- Deixa de ser porco, moleque.
-Já consegui ficar cinco dias sem tomar banho...Você quer apostar que consigo virar a semana? Cem pratas!
 E fomos juntos na sua primeira consulta, como bons amigos.A noite fui lhe fazer uma visita e estava se embonecando para o famoso encontro sensual com a outra.
- Me dá um beijo?  Na boca, hein?
- Beija a boca careca da sua nega, cafetão!
Correu atrás de mim com a vassoura e enfiei  na sua goela um chumaço de flores que enfeitavam o Altar da Santa.
- Você me respeita, Silmara.Sua batata ta assando.
Fazia um século que ele não tomava mais os remédios.Parou de vez.Seu pai pediu para me chamar novamente.Toquei a campainha e me atenderam em estado de choque:
- Ele tá em crise de nervos.É perigoso! Cuidado.
Nisso ouvi um barulho.Estava quebrando as cadeiras da cozinha.Rezei baixinho pedindo proteção.Abriu a porta com tudo e me encarou bufando:
- O que você quer desta vez?
- Fábio, eu quero que você ... tome ...o seu remédio.- miei, morta de medo.
- O que?! – me intimidou.
- Isso mesmo que você ouviu.- respondi com a perna bamba.
- Então porque não disse isso antes? Entra aqui, querida. Cadê os remédios? Que bom que você trouxe.Quero tomar com leite quente.Hum, gostosooo! – ria fixando os olhos nos meus.
Enquanto entravamos passou a mão na minha bunda.Quis lhe meter um tabefe na cara, mas diante da situação , relevei.Colocou um som na vitrola e dançamos coladinhos com o copo na mão.Ás vezes eu tinha a sensação que fazia a gente de otário, sei lá!
                     
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Parou em frente a minha casa enquanto minha mãe o excomungava, fechando a porta com o trinco.
- O Oscar não quer que você entre aqui.Vai embora!
Sai do banheiro com a toalha enrolada, gritando com todas as forças:
- É mentira dela! Pode entrar, meu rei.A casa é sua.Mãe, faz um café.
- O pai dela é uma fera, Fabião.
- Uma fera mansa.Não morde ninguém e tá até sem dente.
Pediu para ver os meus poemas e li quase todos para ele.Suspirava e sorria:
- Este é o melhor de todos.Lindoooo! –aplaudia.- Grande escritora.Sinto orgulho de você.
Era assim que me cativava e me encantava!
Ainda estava escuro quando minha mãe foi colocar o lixo na rua e ele apareceu de sunga listrada na porta da fábrica, com aquele frio danado! Ela me acordou aos berros, querendo me humilhar:
- O seu noivo ta te esperando logo cedo.Ele pensa que ta na praia! Rsrsrs! Ai, é hilário, meu Deus. Coitado.
Parei na calçada, ainda de pijama. Esfreguei o olho para ver melhor:
- Tô bonito?
Essa não! Começou a agarrar todo mundo que passava pelo caminho,  beijando as pessoas na boca.Corria atrás das velhas caducas me deixando petrificada de nojo.Fábio tarado!Quando subi a viela com a sacola de mistura, me atirou no chão:
- Me solta, seu sapo gigante!
A molecada começou a atirar pedra na sua cabeça e eu consegui fugir. Ele puxou meu shorts e me deixou quase nua na frente dos outros.Havia perdido a noção.Era um monstro no cio!
                   
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Eu fiz amizade com a Rose, uma moça bacana que veio do interior de São Paulo para trabalhar na sua casa.Em pouco tempo transformou-se na minha melhor amiga.Rose, te amo!
Sua família foi desfilar na escola de Samba “Vai -Vai” e ela foi pedir para minha mãe deixar eu lhe fazer companhia, já que o Fábio dormia no quartinho de empregada, no fundo do quintal.Enseba daqui e dali! Ai, meu Deus! Deixa, vai?
Foi mole! Num minuto já estávamos de mala e cuia na sala da sua casa.E ele? Sei lá, deveria estar “emburacado” em algum canto. Ela nem sonhava com o nosso tererê e eu não queria que pensasse que estava abusando da sua amizade.
- Cadê o Fabião? – perguntei na diplomacia.- Ele dorme cedo?
- Dorme, mas depois fica perambulando pela casa.
- Você não tem medo?
- É gente boa.Faço o leite do jeitinho que gosta e tudo fica bem.
Eu não preguei o olho só esperando a Bela Adormecida surgir das profundezas do pântano. Grudei no meu crucifixo de madeira.
- Vichê Maria! Acuda que é ele.- pensei.
Veio caminhando em nossa direção. Acendeu a luz e nos olhamos assustados. Parecia um vudu totalmente pelado.Ainda assim era lindo!
- O que você ta fazendo aqui?! – fez cara de bravo.- Nem se atreva a me atacar, hein? Fique longe de mim.
- Eu??! – engoli em seco- Tudo bem. Dorme com Deus (meu amor).
Apagou a luz perambulando pelo assoalho de madeira até clarear o dia. Só de pensar que estava dormindo com ele, ali peladão, me fazia a mulher mais feliz do mundo.Que donzelo mais enjoado!
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Veio correndo e me pegou no colo. Queria  bulir nas minhas coisinhas.
Tinha uma tara explícita. Virei rápido dando-lhe um muque na boca.Me xingou e endureceu o dedo do meio.De repente ficou sério:
- Olha aqui na pontinha deste dedo...
- O que tem aí? – perguntei na maior ingenuidade.
- Isso daqui.- e enfiou na minha vista quase me cegando.
Entrou dentro da fábrica rindo alto como um alucinado enquanto eu tentava lhe acertar com um pedaço de pau.Escondeu-se atrás de um fardo de estopa e ao passar perto, pulou em cima de mim com seu peso manso de quase 90 quilos.Esbugalhei no chão como um tomate podre.Sai chorando de raiva , toda torta e com o joelho ralado.

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Eu conversava com o tio do sorvete quando chegou devagarzinho atrás de mim, puxando papo. Nem liguei pra ele e virei ás costas.
- Não enche o meu saco, hein.Vai fazer naninha, vai.
Eu estava usando um vestidinho novo, tamanho PP e me achava a gostosona do pedaço.De repente levantou a minha saia quase me enforcando com o cintinho de corda.Eu tentava lhe pegar com as unhas, mas ele me rodava feito um frango no espeto.
Todo mundo caiu na calçada, rolando de rir.
- Dança sabugo murcho! Dança!
Dei-lhe um soco na cabeça. Ele gritava cada vez mais alto:
- Ai, bonequinha de corda!  Você ta proibida de andar com esta roupa indecente aqui na minha rua. - e puxou com força o vestido ao meio , sem dó e piedade.Ordenou : - Vai pra casa agora!
Eu fui correndo, sem olhar para trás, porque estava só de calcinha e sholtien.O sorveteiro urrava de felicidade, gritando: - Boa Fabião!   
Ele estava cada vez mais estranho e eu não sabia como lidar com seu jeito temperamental. Além de tudo me traía com aquela sirigaita promíscua na minha cara. Dançávamos juntos, nos beijávamos na boca atrás dos fardos de estopa e no  final do dia se empoleirava  para sair com ela, detalhe: de carro.Mas aquela noite seria diferente porque havia planejado uma surpresinha amorosa .Coloquei a minha melhor roupa e apareci do nada, lhe chamando no portão.
Ao me ver ligou o som bem alto,secando o cabelo com a toalha e ria de mim:
- Não queremos vassouras.Passa amanhã.
- O namoro hoje vai ser a três...
- Ah, coitada.Vai embora logo porque a minha querida tá pra chegar.
Nisso o seu irmão chegou de moto. Um abraçou o outro e se beijaram no rosto.
- Não liga, Téco.É a menina da faxina.- brincou.
Silêncio.Voltou após alguns minutos com uma jarra na mão .Aproximou-se de mim com charme:
- Ah, como ela tá produzida esta noite! - e atirou um litro de suco gelado na minha cabeça.Chutei sua perna e rolamos no chão.Quando abriu a boca, mordi a sua língua.Entre tapas e beijos consegui pular o muro da minha casa no maior gás do mundo!Tocava Beatles e ele me tocava!
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