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                         Beijinhos e queijinhos!



Adoro chegar  em casa, após mais um dia de serviço, e escutar os gritos da molecada no quintal: “EEEÊ, até que enfim, hein?” — e todos vêm me abraçar, no maior chamego do mundo.Delícia! Aí eu rejuvenesço cem anos!
E é o barulho do skate batendo no muro; a cachorrada latindo; João Pedro brigando para não tomar a vitamina de abacate; Serginho metendo o cadeado na bicicleta, só para não emprestá-la aos meninos;  Danilo, Paulo Afonso, Paulo Henrique , Ruan, Natan, Felipe e Decimar  chamando o João no portão ; André instalando um programa novo no computador, Raphael chegando da praia Brava do Camburi ou da musculação ; o meu netinho Davi, que mora aqui  conosco,  mexendo no teclado do meu computador ; minha tia Dirce me chamando do portão com um pote de arroz doce ; minha prima Rose mostrando suas maravilhosas peças de artes plásticas ; minha prima  Fátima  ligando para saber se estou bem; Serginho fazendo aquela janta  danada de boa com direito a suco de acerola do quintal... minha mãezinha  poderosa sempre me apoiando em tudo e  me ajudando a criar os meninos!

Essa rotina, para mim, chama-se “felicidade”, e eu agradeço a Deus por ter essas pessoas do meu lado.Se não fossem elas, com certeza não conseguiria escrever durante tantas horas por dia.Quando saio cedo para uma palestra, Serginho dá conta de tudo, sempre com muito bom humor.Ele é a base, a retaguarda, a coxia  e os bastidores de todos os projetos sociais que desenvolvo.Meu querido amigo e companheiro, dedico todas as minhas conquistas á você!É o pai e amigo desses meninos lindos que hoje são pequenos homens guerreiros! Ele sempre diz que quando morrer e encontrar o Fábio lhe dará um forte abraço com a sensação de dever cumprido por ter dado a eles o melhor de si.Meu pai e Serginho foram os dois homens que estiveram presentes na criação e educação dos meus filhos.

Aos outros que estiveram ausentes , o meu lamento.Com certeza  não participaram do melhor da história, mas Deus nunca nos desamparou e o Universo conspira sempre a favor dos grandes e destemidos desbravadores de emoções .

João Pedro já  tem 14 anos e é o nosso webdesigner. Faz banner, logotipos e tudo que usamos dentro o Blablablá Posithivo. André tem 20 anos e adora mexer no computador.Foi classificado no Concurso Estadual para monitor de informática , foi salva vidas temporário por dois anos consecultivos   e é um gato.
Raphael tem 22 anos e é micro empresário.  Ele fez curso de desenho na Fundação de Arte e Cultura e teve a sua obra classificada no Mapa Cultural Paulista de Desenho em 2008. Trabalha na nossa barraca de tatuagem de henna na Praia do Tenório, mas sua maior paixão é (adivinhe, se puder) o surfe e faz parte da geração “saúde”. Costuma pedalar quilômetros com a prancha debaixo do braço até encontrar a onda perfeita, não importa se na praia Vermelha do Norte ou na praia Brava do Camburi.De verdade, ele surfa muitoo!

Maria é nossa mãezona e mora conosco desde quando fiquei viúva com os meninos ainda pequenos.
 Serginho é o nosso artista de plantão,  pinta quadros lindos, cozinha pra caramba e  também faz parte da diretoria do Blablablá POsithivo . Sinto orgulho de todos eles e peço a Deus que os ilumine cada vez mais.Estarei sempre por perto, com a certeza de que fiz o melhor para cada um.

 

Vivemos assim. Quando temos dinheiro, viajamos. Quando temos uns trocados, acampamos no Camburi. Quando não temos um tostão vamos de bicicleta até a Barra Seca e passamos um dia muito “legal”! Fazemos fogueira na rua, alugamos um filme divertido com direito a pipoca, fazemos caminhadas, jogamos dominó, estudamos juntos, fazemos faxina, brincamos e brigamos! Não quero dizer que somos uma família maravilhosamente perfeita, porque felizmente não existe nenhuma família perfeita; quero dizer, apenas, que esta é a minha família com todos os defeitos do mundo, e ponto! É o meu âmago e o que tenho de mais valioso nesta vida. Com o tempo, aprendi a fazer novas amizades, e agora a minha “lista de Schindler caiçara” já virou um pergaminho de alguns quilômetros de comprimento.
 

Você ter um problema e não poder falar sobre ele é a morte! Isto sim é um problema: a marginalidade e o estigma.
Então, senti que não seria justo guardar somente para mim uma experiência tão rica!
Não é “legal” ver companheiros de Aids, digo, de vida, completamente desesperados, tentando se camuflar para a sociedade. Eu enxergo neles uma culpa que não existe. Um pavor estampado na cara. Nós não somos a escória do mundo. Somos gente, que pensa, ama, deseja. No final do ano eu quero lançar o meu CD de crônicas, acampar, reformar minha casa, lançar outros livros, blogs, projetos... E você? Não importa o tamanho do seu sonho; nunca deixe de sonhar! Somos guerreiros, cada qual com sua luta. Não pretendo escrever um manual para pessoas que vivem com HIV. Quero apenas contar a minha história, que na verdade poderia ser também a sua. Penso nos meus filhos  e neto e é por eles que resolvi escrever este livro. Não quero que cresçam achando que vivem no “País das Maravilhas”, onde as pessoas são sólidas como bronze, mas com os pés de barro, sem estrutura. Pessoas são pessoas, com defeitos e qualidades. É preciso amá-las com intensidade. Nós não precisamos de ídolos, de mitos, de heróis... Somos carentes de seres humanos! Chega de hipocrisia! Cada um de nós carrega suas verdades, e são elas que nos transformam em pessoas diversificadas e melhores. Você tem diabetes, ele tem câncer, fulano tem artrite, artrose, e eu tenho HIV. Nós não somos os vírus, os fungos, as úlceras; somos GENTE! Eles podem estar dentro de nós, mas não nos resumimos a eles. Somos mais do que eles. E unidos seremos muito mais! Ninguém tem o direito de subestimar a sua capacidade ou de matar a sua esperança.
Acredite nisso! Levante a cabeça, respire fundo e seja feliz!

 

Enquanto escrevia este livro descobri que tenho um irmão nascido em Meridiano, interior de São Paulo, registrado em nome de Betty Ribeiro ; avós Deraldo Rocha e Joana Ribeiro.Alguém conhece ou pode me ajudar a localizá-lo? Já pensou se descubro que sou filha do Silvio Santos com uma vendedora de sacola , quando ele  ainda era camelô?
Aprendi com os meus pais a ser íntegra e transparente. Devo a eles a base de tudo e o alicerce para a vida. Hoje, meu pai não está mais entre nós, porque faleceu no início de 2006. Talvez ele também soubesse desta história e apenas me observasse com aqueles olhos fraternos, como se  murmurasse só para mim: “Desta vez, eu estou contigo”. E, com certeza, sempre estará, meu paizinho querido!
Para os meus pais e familiares, deixo o meu amor e a minha gratidão.

 

Ao meu companheiro, ofereço a minha cumplicidade, os meus chamegos,
os meus beijos, o meu coração... Hoje, eu posso dizer com certeza: amo você.
Aos meus filhos, a minha alma.
Aos amigos, antigos e novos,  o meu carinho.
À  todos vocês, o melhor de mim.
Não quero passar pela vida sem voz, sem cara, sem corpo.
Ao meu netinho Davi, o meu comprometimento em lhe ofertar o melhor de mim. A vovó precisa lançar esta sementinha e contribuir de alguma maneira para um mundo mais justo e solidário.


Ei, Fábio, onde você estiver: eu lhe prometi que cresceria de dentro para fora, e hoje sou uma mulher nem pequena, nem grande, mas inteira. E isso é o que basta! Felicidade, paz e muita saúde... Para todos nós! Hoje e sempre. Amo vocês!

 

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